segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

QUEM É LA BEFANA?




La Befana (também chamada de Strega, ou Vecchia) é personagem mítica com aspecto de velha, que leva presentes para as crianças bem-comportadas, e carvão para as mal-comportadas, na noite de 5 para 6 de janeiro. A origem se perde na noite do tempo, descendendo de uma tradição pré-cristã, de base na cultura popular, fundindo elementos folclóricos e cristãos: La Befana leva presentes, em recordação da oferta a Jesus-criança pelos Reis Magos. A iconografia é fixa: uma ampla capa escura, um avental com bolso, um chalé, um lenço ou um capuz na cabeça, um par de chinelos gastos, o todo vivificado por remendos de numerosas cores.

Na noite de 5 para 6 de janeiro, montada em uma vassoura, sob o peso de um saco carregado de brinquedos, chocolates e caramelos (em cujo fundo não falta uma boa dose de cinza e carvão) La Befana passa sobre os tetos das casas e desce pelo caminho cheio de calçados deixados pelas crianças. Os presentes são colocados nas meias penduradas nas lareiras ou nos sapatos deixados perto da porta - uma tradição herdada por Papai Noel. As crianças italianas escrevem cartas e as escondem nas chaminés, para que La Befana as recolha. As cartas e ofertas são, geralmente, listas de brinquedos ou outros itens que desejam e pedem para que La Befana os traga.

La Befana, tradição tipicamente italiana, ainda não foi substituída pela figura "estrangeira" de Babbo Natale (Papai Noel).

La Befana, muitas vezes, aparece nas ruas como uma pessoa mascarada, acompanhada de seu consorte, Befano, guiando um bando de seguidores que recebem ofertas das famílias e, em troca, recebem o presente da prosperidade das bênçãos dadas pela Befana. Música preenche as ruas e as pessoas colocam bonecas com a imagem de La Befana em suas janelas, como convites de recepção às suas casas. No fim da celebração de La Befana, as bonecas são queimadas. Isso é feito para incinerar as coisas ruins que aconteceram no ano anterior e esperar boas realizações no ano seguinte.



Canto della Befana

Mezzano, 1943

Bonasera a voi di casa,
questa sera è Befania,
e col nome di Maria
ve venimo a salutà.

State su ragazze belle,
preparatece l'arrosto
da 'na mano la sarciccia
da quell'altra 'n bel biscotto.
Un biscotto a filagrana
donne ecco la Befana.

La Befana fa ritorno
dal paese de' confini
addormenta i suoi bambini
e va 'n cerca di mangià.

E non fate come Lola
che ce diede poche uova
e non fate come Biacio
che ce dette poco cacio.
Per non fare il suo dovere
je portamo 'l carro a bere.
Canto da Befana
(tradução aproximada)

Mezzano, 1943

Boa noite a vós de casa,
Esta noite é Befania
E com o nome de Maria
Aqui vim para vos saudar.

Fiquem em pé as meninas bonitas,
Preparem a carne assada
Dê uma mão na lingüiça
E a outra no biscoito
Um biscoito a filigrana
Mulher, está chegando a Befana.

La Befana faz retorno (retorna)
do país dos confins
adormece o seu filhinho
E vai perto da comida.

E não faça como Lola
Que colocou poucos ovos
E não faça como Biacio
Que lhe deu pouco caso
Por não cumprir com seu dever
Se vai no carro a beber.


Eis uma pequena canção cantada por algumas crianças italianas:

La Befana vem à noite
Em sapatos rotos
Vestida em estilo romano
Vida longa para La Befana!

Ela traz cinzas e carvão
Para as crianças más
Para as boas crianças
Ela traz doces e um monte de brinquedos.

Alguns fazem simpatias de origem etrusca para acabar com a má sorte. Em muitas das regiões da Itália, a herança dos ancestrais que viveram entre os etruscos serviu como elo de implantação de tais hábitos.



ORIGENS E SENTIDO

Várias obras tentam demonstrar historicamente, através de pesquisas arqueológicas e antropológicas, como traços das culturas arcaicas foram conservados nas tradições do mundo mediterrâneo e sobrevivem através de formas de imagens e símbolos que lembram figuras míticas. Uma delas é La Befana.

Algumas imagens ligadas à figura de La Befana revelam um contexto agricultural arcaico, quando algumas casas tornaram-se estábulos e o culto do folclore doméstico se estabeleceu. Na cultura neolítica, as casas da vila em Anatólia (Catal Huyuk) e outros lugares não tinham portas nem janelas: a única entrada era através do amplo teto horizontal. As pessoas entravam nas casas através de uma escada que era retirada em ações defensivas. La Befana chegava às casas através das chaminés - um ato que é atribuído às figuras míticas do mundo inteiro, como, por exemplo, o próprio Papai Noel ou outras figuras mais ancestrais da cultura, como os espíritos dos índios Montagnais na América do Norte ou, mais que tudo, os Nitu Natmate, espíritos ancestrais dos Papua (Nova Guiné), tanto quanto outras figuras que trazem presentes durante as festividades do Natal.

A relação entre a figura de La Befana e os espíritos ancestrais é nítida e ela passa a representar, assim, uma ancestralidade mítica que retorna a cada ano. Sua principal função é reafirmar a ligação entre a família e os ancestrais, através da troca de presentes. As crianças ganham presentes que simbolizam civilizações arcaicas, já que elas são consideradas como aquelas que guardarão a memória da ancestralidade, prolongando-a. Em algumas regiões, como na Toscana, La Befana é figura mascarada que guia um cortejo de crianças (postulantes) e recebe ofertas das famílias que, em troca, recebem dela o presente da prosperidade.

Toda a cidade se prepara com grande antecipação para o dia de La Befana, que tem por atividade encher as meias penduradas nas lareiras com castanhas e frutas e trazer presentes para as boas crianças e carvão para as não-tão-boas. Na Itália, algumas lojas de doces vendem carbone, que é um doce duro, parecido com pedaços de carvão. Tão logo dá-se a chegada de La Befana, muitas festas começam e as pessoas andam pelas ruas visitando amigos e parentes.

Com relação às meias penduradas nas lareiras, elas não são apenas portadoras dos presentes ou de ofertas de alimentos: ela própria - a meia - é um presente e tem função evocativa, já que trabalhada artesanalmente com figuras míticas que são patronos dos narradores de histórias e tecelões, próximos de La Befana, tais como Frau Holda e Bertha, que visitam as casas durante o período natalino.

La Befana ocupa uma função pedagógica, como uma espécie de "educadora de fora", que lembra e pune e tem importante papel no desenvolvimento das crianças. A "Grande Avó" que é, acompanha as várias fases da vida da criança e os ritos de iniciação do Ano Novo.
Pela tradição, La Befana chega voando em uma vassoura. Tal fato testemunha sua associação às plantas e animais que na antiguidade tinham um valor sagrado como representativas ou simulações da linha totêmica da ancestralidade, tanto quanto eram divindades. Na mitologia, o galho das árvores é a casa do espírito dos ancestrais o qual recebeu a mágica função de voar, que tanto poderia simbolizar a evocação quanto o distanciamento do espírito. Estas ações eram concebidas como uma viagem, um vôo para um reino distante.

Além de sua ligação com o culto da lareira, La Befana personifica, ela própria, o fogo. Seja ele astral (trazido pelas estrelas, como um meteoro) ou terrestre (por exemplo, na noite do feriado de La Befana fogos são acesos para queimar a sua figura). Essa ação não significa propriamente exorcizar uma entidade negativa, mas reacompanhar no fim do grande feriado o espírito dos ancestrais para o reino além-túmulo, pelo simbolismo de acender o fogo.

La Befana está ligada aos elementos e rituais da água e do fogo. Os feriados da Epifania, como sabemos, incluem rituais de purificação e bênção da água. A água preparada na noite da Epifania tem um valor sagrado de afugentar o Mal, sendo usada pelas famílias nos momentos críticos. Em Abruzzo, essa água é chamada de "água do Boffe". Já o fogo, em particular, representa um tema recorrente, que aparece nos Reis Magos, considerados pela tradição como sacerdotes do fogo sagrado, uma casta privilegiada que na Pérsia Zoroastra ficava cuidando do fogo até que ele expirasse.

O conhecimento que os Reis Magos tinham acerca das estrelas os guiou a Jesus Menino, para quem eles levaram três presentes simbólicos do regalo de Cristo sobre os três mundos: ouro da terra, incenso celestial e mirra do túmulo. Essas três substâncias ligam-se, cada uma, aos três fogos sagrados da Védica (Índia) e Avéstica (Pérsia). Portanto, é possível, através do fogo e dos presentes, se estabelecer uma conexão entre os Reis Magos e a figura de La Befana, no tocante ao feriado de 6 de janeiro, que será a décima-segunda noite, ou Noite da Epifania, ou Pequeno Natal.

Em algumas obras, La Befana é associada a Hecate(1). Alguns desenhos do século XIX mostram La Befana como a Deusa Mãe, sentada e cercada por frutos, grãos e outros itens da Colheita. Para reforçar essa teoria, a queima da efígie de La Befana, nas celebrações, é feita em uma fogueira de espigas de milho, gravetos e galhos de pinheiro, empilhados. A tradição fala que se a fumaça vai em direção a oeste, então a colheita será pobre. Se para Leste, será um ano de abundância. Essas tradições têm muita similaridade com o Mito do Deus da Morte. Esse ritual não é o de punição, mas de restauração da Terra através do retorno da Vida. Outras versão falam que La Befana eBefano são vestígios do deus e deusa da Clans, da bruxaria, preservados por bruxas da época da Inquisição.



AS LENDAS DE LA BEFANA

Na Itália permanece a lenda mítica e as tradições envolvendo esta bruxa nomeada de La Befana, nome que vem de "Epifania". A lenda de La Befana tem um importante papel sobre a imaginação infantil. Essa figura extraordinária fascina e supera o tempo por séculos. Por ser tão ancestral, são várias as versões de sua história, que trazemos aqui a título de curiosidade para os que não a conhecem. Ou mesmo de resgate de uma memória afetiva, para aqueles que já sobre ela ouviram falar. São histórias de fontes desconhecidas, do repertório popular, que mantêm esta boa velhinha sempre viva na imaginação de todos.
Conta-se que há muitos séculos o Rei Herodes decretou que todos os meninos naquele ano deveriam ser sacrificados: era seu desejo matar a criança que nasceria para ser o futuro "Rei". Os soldados percorreram as cidades através de todo o país, matando os meninos. Uma das mães que perdeu o seu filho ficou tão chocada que não conseguiu chorar, nem aceitar a perda de seu filho: ela procurou desesperadamente o filho por toda a casa e, não o encontrando, convenceu-se de que a criança não estava morta, mas desaparecida. Colocou todos os pertences de seu filho numa toalha, presa a uma vara, que carregou no ombro, procurando de casa em casa por ele.

Para essa jovem mãe, parecia que muito tempo havia passado na procura, mas em poucos dias ela viu uma criança. Convencida de que conseguira encontrar o seu filho, ela depositou a toalha e os pertences no pé da manjedoura onde a criança dormia. O jovem pai olhou a face desta estranha e ficou pensando sobre quantos anos aquela mulher haveria de estar procurando seu filho. Seu rosto estava enrugado e seus cabelos brancos.

A criança era Jesus Cristo e, em gratidão à generosidade da "velha" mulher, Ele a abençoou. Em uma noite do ano, por toda a eternidade, aquela mulher, que Ele chamou deLa Befana, por ser a "presenteadora de presentes", teria todas as crianças do mundo para si. Nessa noite, ela seria capaz de visitar cada uma, trazendo roupas e brinquedos. A noite é a de 5 de janeiro de cada ano e, na manhã de 6 de janeiro, as crianças de toda a Itália encontram as suas meias cheias de doces por cada boa ação, ou um pedaço de carvão, se elas tiverem sido más. Durante a noite da visita de La Befana ela é recebida por cada família com um prato contendo brócolis e lingüiça temperada, mais um cálice de vinho. Na manhã seguinte, junto com os presentes, a comida está marcada pela mão de La Befana, pela cinza esparsa deixada no prato.

Outra versão:
Os Três Reis Magos pararam na casa de La Befana no seu caminho para Belém. Após jantarem com ela, a convidaram para segui-los na busca do Menino Jesus. Ela recusou-se. Pois precisava limpar a casa e lavar a louça.

Depois de algum tempo ela mudou de idéia e, aflita, ainda com a vassoura na mão, juntou alguns itens de casa para dar ao Menino Jesus. No entanto, ela não foi capaz de encontrar os reis Magos, nem o Menino Jesus. Desde então, ela os vem procurando, ainda com sua vassoura na mão.

A Festa da Epifania é uma celebração cristã em lembrança da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. A Epifania é também uma ocasião de "transgressão" para os adultos e de alegria para as crianças.


Hecate - filha de Perseu e Astéria. Originária da Trácia, era primitivamente uma deusa lunar. Apresentava traços de Ártemis/Diana, sendo, às vezes, assimilada a ela. Seu nome parece ser uma forma feminina de Hécatos (o que fere de longe), epíteto de Apolo. Tão poderosa no céu como na terra, Hecate concedia aos homens a prosperidade material: promovia o aumento dos rebanhos e favorecia a boa pesca. Assim como Ártemis/Diana e Apolo, também protegia a juventude. Aos poucos, passou a presidir à magia e aos encantamentos, ligando-se ao mundo dos mortos. Aparecia aos feiticeiros com uma tocha em cada mão e sob a forma de diferentes animais. Costumam atribuir-lhe a invenção da feitiçaria.

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